
Como falar de futuro com jovens sem clichés
Orientação vocacional não se faz com frases bonitas. Faz-se com perguntas certas, treino realista e espaço para escolhas conscientes.
O erro mais comum: falar com slogans
Quando chega a hora de falar de futuro com adolescentes, muitos adultos recorrem ao que têm à mão: frases prontas.
“Faz o que gostas.”
“Segue o coração.”
“O futuro dirá.”
“O importante é seres feliz.”
São ditas com boa intenção, mas soam vazias. O problema é que, em vez de orientar, podem criar frustração.
Um jovem que não sabe “o que gosta” sente-se perdido.
Outro, ao ouvir “o futuro dirá”, pode achar que planeamento não importa.
No fim, as frases fecham a conversa em vez de a abrir.

A confusão que os clichés geram
Os clichés transmitem uma ideia perigosa: que o futuro é simples e se resolve sozinho. Mas para os jovens, o futuro é complexo:
múltiplas opções de cursos, carreiras e percursos;
pressão social e familiar;
dúvidas internas legítimas.
Sem orientação concreta, muitos entram em passividade (“espero que algo aconteça”) ou culpa (“devo estar errado por não saber o que quero”).

A viragem: de respostas prontas para perguntas abertas
Falar de futuro não é dar respostas feitas. É abrir espaço para o jovem pensar, experimentar e decidir. O papel do adulto é:
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Não impor escolhas, mas treinar raciocínio.
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Não decidir pelo jovem, mas ajudá-lo a avaliar cenários.
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Não desvalorizar medos, mas transformá-los em reflexão.
Isto é orientação vocacional de verdade: mais perguntas, menos slogans.

Perguntas que funcionam (e substituem clichés)
Em vez de slogans, use perguntas poderosas. Eis 8 exemplos práticos que mudam a conversa:
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Em vez de “faz o que gostas”:
“Quais são as atividades que te dão energia mesmo quando são difíceis?” -
Em vez de “segue o coração”:
“Quais são os valores que nunca quererias abdicar, em qualquer caminho que escolhas?” -
Em vez de “o futuro dirá”:
“Que pequenas experiências podes testar já este ano para perceber melhor o que te interessa?” -
Em vez de “o importante é seres feliz”:
“Que tipo de desafios te dariam orgulho daqui a 10 anos?” -
Futuro académico:
“Se tivesse de escolher uma disciplina para aprofundar fora da escola, qual seria?” -
Futuro pessoal:
“Que tipo de pessoas admiras — e o que nelas te inspira para o teu próprio caminho?” -
Futuro profissional:
“Imagina-te num primeiro emprego. O que querias aprender nesse ambiente?” -
Futuro de longo prazo:
“Quando pensas em ti com 30 anos, que vida não quererias de todo ter?”
Estas perguntas não fecham. Abrem. Mostram respeito pela complexidade do futuro e dão ao jovem ferramentas para pensar.

Uma micro-história real
Inês, 15 anos, ouvia sempre: “faz o que gostas”. Mas ela não tinha um “gosto óbvio”. Sentia-se errada e bloqueada.
Um dia, a mãe mudou a abordagem: “Quais são as atividades que te dão energia mesmo quando são difíceis?”. Inês respondeu: “Organizar trabalhos de grupo, mesmo quando dá trabalho.”
A partir dessa pergunta, descobriu afinidade com planeamento e gestão. O desbloqueio começou com uma pergunta certa, não com uma resposta pronta.

O papel do L.O.T.: treino em vez de slogans
No L.O.T., futuro não se discute em abstrato. Treina-se.
Hunters → jogos que obrigam a decidir sob pressão, planear e adaptar.
Método ART → estrutura de estudo em três passos (Aprender, Recordar, Transformar) que ensina a transformar sonhos em planos.
LOTbooks → cadernos que criam hábitos de organização hoje, para que o jovem saiba organizar a própria vida amanhã.
Não é conversa vazia. É treino estruturado.